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Hoje, 8 de março, é comemorado o Dia da Mulher. Por isso, nós queremos aqui relembrar de uma pessoa que fora muito importante para a nossa Casa, Dirce Penteado Forster. A vereadora foi a única mulher a assumir o cargo de presidente da Câmara Municipal de Pilar do Sul até os dias de hoje. 
A parlamentar permaneceu pouco tempo no cargo - do dia 8/12/1970 a 31/01/1971.

Para celebrarmos essa data junto com todas as mulheres, queremos deixar um discurso feito pela Dirce quando tinha seus 82 anos. Seu relato de vida é comovente e mostra o quanto todas as pessoas do sexo feminino batalharam sempre.


Discurso de Dirce Penteado Forster
Quem sou eu? Dirce Penteado Forster, todos já me conhecem, uns pessoalmente, outros por ouvir dizer. Mas hoje vou contar-lhes a minha história de uma outra maneira. 
Em uma dessas noites de assistir televisão a espera do tão desejado sono, um filme chamou-me a atenção, sobretudo um diálogo entre duas personagens que estavam em fase final da vida. Uma delas perguntou ‘você sabe que há um guardião a nossa espera para um acerto de caminho. Ele formula duas perguntas. A primeira: se você sentiu alegrias em sua vida; a segunda, se você proporcionou alegrias às outras pessoas”. Ao término do filme, pus-me a pensar sobre as perguntas que o guardião da fronteira poderia fazer-me e fiz uma retrospectiva de todo o meu passado vivido até o presente momento. 
Quanto as alegrias em minha vida, foram muitas. A alegria de ter nascido aos 12/02/1932. Primeira filha de um casal jovem, Oswaldo de Almeida Penteado e Margarida Matheus Penteado. Alegria de ter tido mais quatro irmãos: Wilson (já falecido), Antônio, Esther e Conceição. Alegria por ter tido uma avó que me paparicava o tempo todo e todas as noites me contava histórias da bíblia, a de Jesus, Jonas, Moises, entre outras. Me ensonou também a fazer crochê. Enfim, alegria por ter uma família que me amou por toda a minha infância. Já tendo de ir morar em Santos com meus tios e por minha avó estar bastante doente, foi quando terminei meus estudos. Fui muito feliz quando recebi meu diploma de professora do diretor da escola estadual e escola normal Canadá. Alegria e com as pernas tremendo ao entrar em sala de aula para ser professora pela primeira vez e ao me deparar com 30 pares de olhinhos, eu tive vontade de sair correndo, pois parecia que meu cérebro havia tomado um banho de “omo total”, pois não conseguia achar a minha fala, mas um garotinho de apenas sete ou oito anos me acordou com as seguintes palavras: “Professora, a senhora é muito bonita”. Dei minha aula com alegria porque eu havia vencido uma barreira e provara a mim mesma de que eu seria capaz de vencer qualquer obstáculo. 
Ao retornar ao interior (Bauru), fui lecionar em uma colônia chamada Ipiranga, que pertencia à companhia agrícola do Rio Tibiriçá, em Gália. Lá conheci, além da alegria de pessoas maravilhosas, a família de dona Conceição. Os meus alunos que junto com a minha gritaria, por causa de uma cobra que entrara na sala de aula, conheci a pessoa que traria a maior alegria da minha vida: um homem maravilhoso, carinhoso e, sobretudo, com muita paciência, Robert James Forster, Roy, como era conhecido carinhosamente na família, para me convencer que a dita cuja cobra não era venenosa, mas apenas uma “cobrinha” verde de café.
Após dez encontros entre namoro, noivado e casamento, este se realizou no dia 18/12/1953.
Entre idas e vindas, viemos para um lugar cujo nome da cidade nem constava no mapa, Pilar do Sul. Alegria, pois chegava a minha primeira casa, onde, na realidade, iria viver a minha vida de cassada na fazenda Vitória, Bairro da Saudade.
Alegria misturada a emoções indescritíveis foi o nascimento das minhas filhas Anne e Vivian, em 03/01/1955. Vivian, Deus a levou para ficar com ele. 
Retornei a minha vida profissional. Lecionando na saudade durante os períodos de licença das professoras titulares, fui convidada para dar aulas no ginásio que havia sido criado e funcionava em duas classes do grupo escolar Padre Anchieta. Iniciamos nossa vida em prédio próprio, mais tarde, e, em homenagem a um Pilarense e vereador, recebeu o nome de Ginásio Estadual Vereador Odilon Batista Jordão. 
Entre todas essas atividades: aulas na fazenda, no bairro do Turvo, na Colônia do Dedini, no Ginásio, acumuladas com as funções de dona de casa, pois semanalmente a fazenda era visitada pela diretoria da São Paulo Alpargatas, cujas refeições eu tinha que providenciar.
Outra emoção repleta de alegria foi a chegada da Jaqueline na madrugada do dia 09/1-/1959, era mais uma garotinha que deus nos mandava. 
O tempo foi passando e muitos acontecimentos entremeando a nossa vida, misturada a nossa alegria com a chegada do Andrew, às quatro horas da tarde do dia 20/07/61. E nesse dia a alegria foi misturada a lágrimas e agradeci a Deus a família que me dera e que eu amava muito, meu marido e meus três filhos.
Após algum tempo, fui convidada a ser candidata a vereador e graças ao carinho e confiança das famílias da fazenda e de meus ex-alunos já eleitores. Fui eleita a primeira vereadora de Pilar do Sul e não sei exatamente quando foi a minha alegria se ao receber o diploma em piedade ou a minha primeira sessão na Câmara.
As responsabilidades aumentaram nessa época, já morando em Pilar do Sul, onde ocupava o cargo de diretor do Ginásio, encarregada da merenda escolar e das atribuições de vereadora, que digamos, naquela época era um cargo sem remuneração. 
Mas um acontecimento misturado de alegria, emoção e lagrimas, foi o casamento das minhas duas filhas: Anne e Joinville, Jaqueline e Roodney, na capela da Fazenda Vitória, no dia 14/02/1976. 
A família já então estava separada, por causa dos estudos. Roy morando na fazendo e eu em Sorocaba, trabalhando na delegacia de ensino, cursando pedagogia, pois meu objetivo era ser diretor de escola efetivo. Mas como a tristeza faz parte de nossa vida veio à doença do Roy, e o nosso cotidiano tornou-se uma mescla de alegria, angustia e cansaço. Alegria com a chegada dos meus netos, Alessandra, no dia 02/06/1978, uma bonequinha linda e chorona, filha de Jaqueline e Roodney; Já no dia 10/03/1979, no hospital de Itararé nascia Grace, nome escolhido pela minha mãe, uma linda moreninha, calma e tranquila, filha de Anne e Joinville; aos 20/06/1980 chegou um garotinho gordo e cabeludo, o Roodneyzinho, para a alegria de todos e de sua irmã Alessandra; no dia 09/09/1983 nasceu o meu neto mais novo, lindo e sem cabelo, Vitor, irmão da Grace. 
Em 14/10/1986, perdi meu marido, meu maior amigo e companheiro, apesar de toda tristeza a vida continuou me proporcionando alegria. A convite da Soninha, minha ex-aluna e secretaria da educação na época, para auxiliar na organização do centro educacional e de reabilitação. Em pouco tempo lá trabalhando, alegria apesar de seus filhos serem especiais, e um fato me marcou espiritualmente. Um garoto, apesar de ter perdido a visão, ainda me dizia que era alegre e via o mundo cor de rosa. Outra pessoa que também me marcou foi a Eleni, pessoa abnegada e amiga, pois sofria junto com cada criança e tentava da melhor maneira possível amenizar as mazelas das crianças do Criamor.
A vida continuou Senhor Guardião, pois tive novas alegrias. Ver, assistir e chorar de emoção com as formaturas e casamentos dos meus netos: Alessandra formou-se dentista e casou-se com Orlando Bastos Filho, promotor público, e deu-me três lindos bisnetos, meninos inteligentes e que muitas vezes me levam a uma forte emoção. Felipe, com oito anos, ainda pequeno e carinhoso dizia que precisava tomar cuidado comigo, pois eu era muito velhinha; Rodrigo, com seis anos, muito sapeca, não gosta muito de comida e corrige quando alguém pergunta “essa senhora é a sua avó?”. Ele todo orgulhoso responde. “Ela é minha Bisa”; Já Fabricio, próximo de três anos, e muito esperto e falante, adulado e paparicado pelos avós. Grace, sua formatura foi em Campinas como fisioterapeuta. Ótima profissional a quem devo minha recuperação após uma cirurgia para a retirada de uma mama. Casada com Marcelo Scarponi, também fisioterapeuta, deu-me uma bisneta, a mais velha, Beatriz, com oito anos. Linda, inteligente, muito carinhosa, gosta de música e dança, ela é a alegria dos avós, Anne e Joinville. Roodneyzinho formou-se médico cirurgião, casado com Carolina Henna, também médica. Dessa união veio Sophia, com quase dois anos, linda, sapeca, gosta de passear e dar adeus com suas mãozinhas a todos que encontra. É uma menina bastante alegre. Quanto ao Vitor, formou-se administrador de empresas voltado ao comércio exterior, trabalha em São Paulo viajando todos os dias e dá um trabalho danado ao seu anjo da guarda, pois pedimos a ele para que seu caminho seja livre de perigos. Casado há quase dois anos com Jacqueline, advogada, uma jovem loira e bonita, que gosta de esportes, especialmente futebol, mas até agora não me deram a alegria de mais um bisneto ou bisneta.
Alegria porque faço parte de um grupo de ex-professores que se reúnem uma vez por mês para um chá, em que trocamos nossas dores, nossos médicos, nossos remédios, mas também contamos piadas falamos mal dos nossos governantes, damos risadas e, graças a Deus, por estarmos vivas, sendo que a mais nova está com 68 anos.
Quanto à segunda pergunta, será mais difícil de responder. “Se proporcionei alegria às pessoas”. Fui procurar no fundo do baú da minha memória. Como professora, o que fiz? Alegria aos meus alunos quando de algumas excursões que organizei – viagens à São Paulo, ao zoológico, à um cinema com tela panorâmica com o filme el Cid, a visita ao planetário, à estação da Luz para ver os trens em movimentos, ao aeroporto de Congonhas, à antiga rádio Tupi, onde fomos entrevistados pelo apresentador Barros de Alencar, que perguntou “mas, onde fica Pilar do Sul?”. Passando algum tempo a nosso convite veio conhecer a cidade e trouxe o seu grupo para promover um baile na Associação Atlética de Pilarense, o clube local, em novembro de 1971. Esse baile foi marcado pela presença do primeiro conjunto musical de Pilar do Sul, The New Sound 2001”, cuja formação era Vile (meu genro), Nezinho, Moio, Carlão da Zila e Goiaba. A presença principal no evento era o cantor da Rádio Tupi Zapata. A excursão para Santos e São Vicente, pois muitos não conheciam o mar e um deles quando viu aquela imensidão de água, ergueu os braços e disse “meu Deus, mas que “tancão”. Conhecera o museu de pesca, o aquário, o monte Serrat. Fomos a uma loja onde havia escada rolante e foi um sufoco para tira-los de lá. Fomos à ponte Pênsil, ao porto de Santos e voltamos sãos, mas cansados, pois não dormimos devido à noite toda batiam no nosso quarto para perguntar se podiam levantar para passear. Já os meninos aprontaram com guerra de travesseiros e o Dr. Hélio teve que pagar os estragos. E a excursão para o Rio de Janeiro, da qual não participei, onde ficaram hospedados nos alojamentos do Maracanã. Acredito eu, que proporcionei alegria a esses adolescentes. Como vereadora acredito sinceramente que também participei, pois fazia parte de um grupo de políticos que arregaçavam as mangas e trabalhavam. A alegria de ter em nossas casas a televisão o tempo todo em seu tamanho normal, com a vinda da energia elétrica do governo, não mais da usina Batista, alegria ao rodar com nossos carros pelo asfalto e não mais pela terra, que muitas vezes encalhávamos. Ainda alegria, não só minha, com a dos pais cujos filhos não mais precisariam viajar para estudar em Sorocaba, pois fora criado o segundo grau no Colégio Estadual Vereador Odilon Batista Jordão. Pedi muitas vezes ao Cesarino para levar criança doente à Sorocaba, sendo que a ambulância muitas vezes já tinha saído Fiquei devendo muitas dessas viagens, mas ele também nunca me cobrou. Acho que houve alegria nesses momentos por ter salvado, talvez, a vida de uma ou várias crianças. 
Então, senhor Guardião: Qual será sua avaliação? Bem, não sei o que ele dirá. 
Mas finalizando essa longa história, pois afinal são mais de oitenta e dois anos de vida. Quero fazer algumas considerações. Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus pelas muitas alegrias que recebo a todo instante: às minas filhas e aos meus genros (filhos de coração) o carinho, a consideração, o respeito que têm por mim; a meu filho Andrew pelo amor que você me demonstra ao depositar um beijo na minha testa todos os domingos, e pedir-lhe perdão por não ter dado a vocês todos mais alegrias que mereciam. Agradecer aos meus netos, os presentes e as oportunidades que me proporcionam por estarmos juntos, ou seja, reunir a família. Finalmente, agradecer a alegria que me proporcionou o povo Pilarense. A todas as pessoas que conheci e com as quais convivi, aquelas que trabalharam para mim, desde as minhas empregadas e babás, que me ajudaram a cuidar da alimentação de outras pessoas em minha casa, bem como dar educação aos meus filhos. A todos da minha cidade de Pilar do Sul, que direta ou indiretamente me proporcionaram alegrias: nas escolas, na prefeitura, na Câmara, nas ruas, ao me dizerem “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite, dona Dirce”. A todas que comigo trabalharam ou com quem trabalhei indistintamente, aqui presentes ou residentes ou já residentes em outras cidades ou ainda aqueles que vivem em outra dimensão, o meu mais profundo e sincero muito obrigado.